Durante sensivelmente uma semana a Web Summit regressou a Portugal, e assim permanecerá pelo menos até 2028. Este ano, em que mais uma vez foram quebrados os recordes de participantes, a edição contou com mais de 70 mil participantes e mais de 2000 startups de todas as partes do globo. Os temas foram diversos e cada vez com um ciclo disruptivo mais acelerado, o que esperamos que se mantenha pelos próximos anos!
A Web Summit assume cada vez mais uma posição de sucesso no panorama da tecnologia e inovação a nível mundial, recebendo cada vez mais uma maior cobertura mediática. A edição deste ano foi classificada da seguinte forma por alguns jornais de referência.
“The giants of the web assemble” – Wall Street Journal
“Where the future goes to be born” – The Atlantic
“It defines the ecosystem” – The Guardian
Os principais temas que ocuparam os 4 dias da conferência estiveram alinhados com aquilo que tinha sido apresentado na edição anterior, trazendo alguns novos temas que ganharam relevância internacional no presente ano. As novidades tecnológicas foram muitas, não fosse esta considerada a maior conferência de empreendedorismo e tecnologia do mundo. Como tal, destacamos como principais temas desta edição:
- Tecnologia
- Inovação
- Privacidade e Proteção de dados
- Inteligência artificial
- Sustentabilidade
- Serviços.
O primeiro dia da Web Summit arrancou com a apresentação de várias startups que exibiram diversas soluções disruptivas. Tendo-se seguido a estes a participação daquele que diríamos que foi a grande estrela deste primeiro dia – Edward Snowden – o norte-americano exilado na Rússia após ter exposto as práticas secretas do governo norte-americano referentes a vigilância mundial e espionagem. Snowden alertou para o poder atual dos dados e na atual facilidade com que os mesmos são manipulados, não sem antes recordar os tempos vividos na CIA e no culminar da exposição do sistema de espionagem mundial que esteve envolvido. De ressalvar da sua intervenção de 20min a frase que mais impacto possivelmente teve: “Não são dados que estão a ser explorados, são as pessoas” – uma reflexão para a atual situação de dados e proteção de tudo a que nos diz respeito online.
Após algumas outras apresentações sobre temas como proteção de dados e inteligência artificial, o grande tema de encerramento do primeiro dia foi o 5G. O chairman da Huawei Guo Ping, teve a oportunidade de apresentar aquele que é considerado um dos mais esperados avanços tecnológicos da atualidade. Desde robótica, veículos autónomos, Internet of things, etc, o 5G promete revolucionar as nossas vidas com capacidade de rede e velocidades inalcançáveis na atualidade.
No segundo dia, os dados e a proteção dos mesmos voltou a estar no topo dos temas do dia, muito por influência da participação de Brittany Kaiser, ex-colaboradora da Cambridge Analytica, que saltou para a ribalta com os escândalos de utilização abusiva, manipulação de dados e influências presentes nas eleições dos Estados Unidos da América e nas votações do Brexit. Outro dos temas de destaque neste dia foi relativo à Banca e serviços financeiros, com grande destaque para as Fintech que cada vez mais se apresentam como sólidos players capazes de revolucionar este mercado. Tal como em quase todos os setores, o 5G e a crescente capacidade para processar grandes quantidades de dados em grande velocidade, serão essenciais para o sucesso das Fintech nos próximos anos.
O terceiro e penúltimo dia da Web Summit teve como principais temas a tecnologia, a robótica e a era digital. Uma das figuras do terceiro dia foi Brad Smith, presidente da Microsoft que abordou temas como a tecnologia, os desenvolvimentos da Inteligência artificial e as questões dos dados. Sem “esquecer” um pedido aos gigantes tecnológicos que procurem envolver as pessoas nas novas tecnologias e não caírem no erro de “deixar as pessoas para trás”, referindo que a Microsoft tem estado extremamente focada com as questões éticas que surgem com os avanços da Inteligência Artificial. No final do seu discurso, realce para dois temas: o pedido para que os governos dos vários países se esforcem por regulamentar e controlar as políticas de tratamento de dados, e ainda a apresentação por parte de Brad Smith do projeto OceanMind, uma empresa que com recurso à recolha de dados se compromete conseguir identificar embarcações a realizar sobrepesca em várias partes do globo. Sendo nas palavras de Brad Smith também este um grave problema de sustentabilidade.
Tal como no dia anterior, voltámos a ter a utilização abusiva de dados presente nos vários debates realizados ao longo do dia. Aliás, desde o primeiro dia com a intervenção de Edward Snowden, a questão da utilização massiva de dados e os abusos decorrentes da mesma foram tema todos os dias da Web Summit. Neste dia existiu ainda espaço para abordar o futuro da mobilidade e veículos autónomos com Manik Gupta, diretor de produto da Uber a apresentar a aposta da empresa no setor das trotinetes elétricas e a surpreender a plateia com a promessa que em 2023 a empresa estará em condições de trazer ao Web Summit o seu projeto de veículos voadores.
No quarto e último dia da Web Summit, comecemos pelo final referindo que a conferência foi encerrada como já vem sendo habitual com a presença em palco de Marcelo Rebelo de Sousa e Paddy Cosgrave. O dia teve como um dos principais momentos a participação de Margrethe Vestager, a comissária europeia para a concorrência que saltou para a ribalta mundial com a taxação e aplicação de multas a gigantes mundiais como a Google, abordou diversos temas nesta sua já habitual participação na Web Summit. Um dos principais foi a taxação e uniformização fiscal para as empresas tecnológicas a nível mundial, algo que nas palavras da própria Margrethe Vestager será “algo bastante lento e difícil”.
Outras das intervenções que mais curiosidade despertava neste dia era a de Michael Kratsios, conselheiro de Donald Trump para os assuntos tecnológicos. Irreverente e frontal, como já vem sendo habitual com todos os representantes da administração Trump, Michael Kratsios “apontou o dedo” à Huawei acusando a gigante chinesa de utilizar a sua implementação de 5G para continuar a controlar os cidadãos a nível mundial. Referindo que qualquer empresa chinesa tem obrigação legal de partilhar com o governo os dados das suas operações, Michael Kratsios referiu que qualquer país que colabore com a Huawei está a potenciar um futuro em que a China poderá controlar e violar a privacidade dos dados de grande parte das pessoas. Apesar de algumas partes do discurso com grandes elogios ao empreendedorismo e inovação dos participantes da Web Summit, a sua intervenção terminou sob apupos e vaias da plateia que assistia.
As Fintech e o futuro do setor bancário voltaram a estar na ordem dos temas do dia com a participação de Nikolay Storonsky, CEO da Revolut. A empresa é uma das bandeiras do sucesso da Web Summit, a Fintech participou na primeira edição da Web Summit como uma startup a dar os primeiros passos e a tentar apresentar-se ao mundo, com um plano de obter 250 mil clientes em 4 anos, números largamente ultrapassados uma vez que a Fintech está perto de atingir os 10 milhões de utilizadores. Nas palavras de Nikolay Storonsky, a Revolut não se apresenta como um banco visto não ter atualmente a função de conceção de crédito. Algo que irá alterar já no ano de 2020, onde a empresa terá já disponíveis cartões de crédito para os seus clientes. Com esta nova etapa no crescimento da tecnológica, esta estará mais próxima da banca tradicional, o que motivou a questão se não temiam ser adquiridos por um grande banco mundial. O CEO da Revolut afastou a questão da venda, garantindo que a empresa necessita de independência para ter sucesso, no entanto, garante Nikolay que tem a certeza que a banca tradicional irá seguir todos os próximos passos da tecnológica.
Foram estes os temas da Web Summit deste ano, estando já definidas as datas para a edição de 2020 – 2 a 5 de Novembro. Por essa altura, muitos dos projetos presentes nesta edição certamente serão soluções em crescimento no mercado e muitos dos projetos da próxima edição, neste momento serão ideias em fase inicial e de desenvolvimento. O que se espera é que a próxima edição seja novamente um sucesso, com empresas e ideias disruptivas e capazes de revolucionar as nossas vidas nos mais variados setores.